sábado, 16 de fevereiro de 2008

Criação espontânea

Criação espontânea e declamada na “Noite de Poesia” do FSM-Penafiel no Café EP no dia 12 de Janeiro de 2008.
... ... ...

de
Mário André da Rocha Carvalho


Existem no mundo
Dois sinais da cruz.
Um faz-se começando pela direita,
Outro nasce da esquerda e assim se conduz.
Uns bebem vinho e chamam-lhe sangue,
Outros também o bebem de prazer e vício...
Da cisão de uns nasceram outros,
De ortodoxo solstício.
Uns, do passado, esperam palavras novas,
Outros ainda vivem dos seus rosários.
Estranho, que todos os que se benzem começando pela esquerda,
Estejam pejados de moralismos reaccionários.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Visão do Fórum Social Mundial de 2008 por Eduarda Castro


MOVIMENTO GLOBAL

Talvez não por acaso, no dealbar deste século-milénio, surge, pela primeira vez um movimento que transforma efectivamente o nosso planeta numa aldeia global.
Importa referir que o avanço tecnológico que levou à criação da internet teve um papel determinante neste movimento.
O movimento pela paz e o movimento forístico são os protagonistas desta nova forma de intervenção cidadã.
Em 2001, ano um deste milénio, realizou-se em Porto Alegre, Brasil, o primeiro Forum Social Mundial, mobilizando cidadãos e organizações de todo o planeta.
Em 2003, perante a perspectiva de ataque ao Iraque por parte da administração Bush, o mundo inteiro, localmente, saiu à rua, em simultâneo, para tentar evitar a guerra eminente com as consequências catastróficas que hoje vivemos.
O movimento forístico segue o seu curso complexo e diversificado e desdobra-se em foruns sociais locais, regionais, nacionais, continentais e mundiais para se expandir, neste ano de 2008 num Forum Social Mundial que floresce em toda a parte onde a semente tem condições para dar flor. E isso acontece em todos os continentes, em mais de oitenta países, em mais de quinhentas iniciativas e é apenas um pequeno embrião de um mundo melhor que é possível.
Pessoalmente, que sigo atenta e confiante este despertar da humanidade, acredito que um passo importante virá a ser dado na medida em que vá sendo possível transformar este movimento num movimento de acção e não apenas de reacção, com a perspectiva de ser um movimento essencialmente de pró construção de um mundo melhor e deixando de ser um movimento contra o mundo velho a cair de podre.
Esta posição não exclui, bem pelo contrário, a visão rigorosa e segura sobre o que de tremendamente errado o poder e os poderes têm vindo a fazer. Não exclui a consciência de que é o capitalismo, hoje neo-liberalismo global, a origem da situação que vivemos, mas a perspectiva é de que nós somos o novo, nós somos @s que queremos um outro mundo, humano, solidário, saudável, pleno de luz, de cor, de vida, de alegria, de sorrisos, de amor e vamos caminhar nesse sentido.

Em Penafiel, 26 de Janeiro deste 8º ano do novo milénio, pudemos cantar o emblemático «acordai» em que as palavras de José Gomes Ferreira ecoam na música de Fernando Lopes Graça.
Ora o que assistimos de facto é ao acordar de um mundo entorpecido e adormecido pelo apelo a uma vida de aparência em detrimento de uma vida de essência a um ponto em que o cansaço gera o seu despertar para uma nova – tão antiga – realidade. É, pode e tem de ser, um belo e tranquilo despertar, espreguiçar, interiorizando a própria força, a que nos é dado assistir e de que nos é possível participar.
Somos pois protagonistas dos primeiros acontecimentos à escala planetária, a única escala que nos permitirá um passo seguro e efectivo no sentido da libertação da humanidade.
Pensar globalmente e actuar localmente com as ideias-chave da Revolução Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade e com a imensa diversidade que engrandece @ human@ é o caminho.
O crescimento da cidadania faz-se dia a dia na vida de tod@s e da cada um(a), colectiva ou individualmente. Mas o grande passo que este milénio permitiu foi a actuação simultânea ao nível planetário e essa actuação é a resposta às diferenças socio-economicas que irá possibilitar uma efectiva aproximação da humanidade, que irá permitir o aparecimento de uma efectiva humanidade, de uma humanidade global com tod@s diferentes, tod@s iguais.
Este caminho só funcionará, penso, se for tranquilo, seguro, determinado e solto. Os agentes do novo mundo devem ter a certeza do que querem para si e para tod@s ao mesmo tempo que devem permitir que o caminho se faça na justa medida em que vá sendo possível.
Talvez seja este o maior desafio. Perante tantas injustiças e tão grandes malformações poderá tornar-se difícil conciliar a pressa de transformar com as reais possibilidades de o fazer.
Quanta mais beleza, criatividade, alegria serena conseguirmos transportar para dentro deste movimento global mais adesões conseguiremos para esta bela caminhada.
maria eduarda

FSM-Penafiel







Elementos da "TERRAVIVA" com o FSM-Penafiel


Exposição em Novelas com o FSM-Penafiel



Caminhada Marecos-Penafiel com o FSM-Penafiel




Caminhada Marecos-Penafiel com o FSM-Penafiel





Hoquei em Santiago com ao FSM-Penafiel





Texto de Padre Mário na Tertúlia do FSM-Penafiel

Padre Mário de Oliveira
19 JANEIRO 2008 – No Fórum Social Mundial em Penafiel

Hoje, pelas 16 horas, vou estar no Café Sociedade, na cidade de Penafiel, a debater com outros convidados, elas e eles, a Pobreza. A iniciativa decorre no âmbito do Fórum Social Mundial, neste caso, local, mas em articulação com o Mundial. Confesso que vou com alguma relutância. Porque a simples existência da Pobreza em massa e de pobres em massa é uma aberração, um crime que nunca deveria ter começado a existir à face da terra. Mas que não só começou a existir, como ainda se mantém. Propositadamente. E todos os dias são alimentados por grandes Inteligências dementes e cientificamente organizadas. Para que atinja cada vez mais pessoas e povos. Inclusive, alimenta-se, até, com debates como este em que vou também participar, a convite dos promotores da iniciativa. Daí a minha relutância. Porque, quando mais parecemos erguer-nos contra a Pobreza, ainda estamos a contribuir para que ela se mantenha. Em matéria de Pobreza e de pretenso combate à Pobreza, somos todos uns hipócritas. Vivemos a fazer de conta. Desde logo, porque não são os pobres, as vítimas da Pobreza, que organizam o Fórum Social Mundial, nem sequer, nas suas dimensões locais, como esta aqui em curso. São minorias não-pobres - não quer dizer que sejam ricas, mas são não-pobres - e mais ou menos escolarizadas que estão na origem desta e de outras iniciativas do género. Os pobres, as vítimas da Pobreza, não aparecem. Tão pouco são convidados. Cheiram demasiado mal, são demasiado incómodos e conspirativos, para poderem entrar e estar nestes lugares reservados a eleitos preocupados com eles e com a pobreza que os exclui e mata lentamente, sadicamente. Nem sequer entre a plateia que se desloca para assistir / participar nas diversas acções que iniciativas como esta sempre conseguem pôr em marcha. Os pobres, as vítimas da Pobreza nunca estão aí. No último Fórum Social Mundial em Nairóbi, África, ainda estiveram por alguns momentos, numa tarde. Não como protagonistas, obviamente - alguma vez os não-pobres acham que os pobres são capazes de alguma coisa?! - mas apenas como objecto da curiosidade, disfarçada de solidariedade, dos participantes no Forum, idos de todo o mundo, quando os promotores da iniciativa decidiram ir de visita, como quem vai a um jardim zoológico, a um dos bairros-favela mais miseráveis e mais numerosos em habitantes por metro quadrado, nos subúrbios daquela cidade. Alguns dos participantes, os mais sensíveis, até vomitaram, perante tamanha miséria, tamanha degradação, tamanho desprezo, tamanha humilhação, tamanho crime, tamanho genocídio cometido vinte e quatro horas sobre vinte e quatro horas. Outros, menos sensíveis, mas mais intelectuais cerebrais, indignaram-se perante o que lhes foi dado ver e escreveram / dissertaram sobre aquela situação-espelho do nosso mundo global. Sofreram pesadelos, durante algumas noites e até durante alguns dias. Aqueles rostos da Pobreza e da Degradação não lhes saiam de diante dos olhos. Mas depressa tudo se apagou, tudo voltou à normalidade, depois que escreveram toda a sua indignação em jornais e revistas e se insurgiram com veemência contra tamanha Indignidade e tamanha Inumanidade. Os textos que produziram e as conferências que disseram sobre aquela situação e sobre a Pobreza em geral bastou para lhes trazer o sossego de volta e o sono tranquilo, sem mais pesadelos. Entretanto, o enorme bairro-favela de Nairóbi continua lá, em carne viva. O genocídio ao vivo e continuado que ele é continua lá. Os pobres aos milhões - crianças, jovens, mulheres e homens de meia-idade e outras, outros precocemente velhos (que a fome mata, senhoras, senhores; que a Pobreza mata, senhoras, senhores!) - esses continuam lá. Ignorados. Esquecidos. Cada vez em maior número e cada vez mais pobres. Cada vez mais degradados. Somos assim, duma maneira geral, os não-pobres e mais escolarizados, ou mesmo semi-analfabetos. Uns hipócritas. Vejam que até dos pobres e da Pobreza de que todos eles são vítimas, nós, os não-pobres, os mais escolarizados, tiramos proveito pessoal e corporativo. Fica bem, é de bom-tom, dá prestígio promover iniciativas como o Forum Social Mundial. E participar nelas. E debitar discursos durante elas. Somos por momentos individualidades. Locais ou regionais, porventura, mas individualidades. E fica a impressão, perante a sociedade e os nossos próprios olhos, de que somos militantes de causas, no caso, que estamos empenhados na erradicação da Pobreza. É tudo mentira. Estamos simplesmente a auto-promover-nos e a dar nas vistas, a ter alguns dos nossos cobiçados quinze minutos de fama, de que tanto necessitamos para subirmos no conceito dos que nos rodeiam, na sociedade em que nos situamos, na organização partidária ou eclesiástica em que estamos inscritos e, onde, deste modo podemos fazer carreira com mais facilidade. Perdoem-me esta rudeza, mas é isto que sucede. Porque somos não-pobres e o que mais queremos, lá no fundo do nosso inconsciente, é que este nosso estatuto de não-pobres se mantenha estável e, se possível, até suba e nós acabemos ainda menos não-pobres, por isso, um pouco mais ricos, com novas possibilidades e novos amigos, não entre os pobres, mas entre os mais ricos do que nós. Parece que queremos mudar / transformar o mundo, acabar com a Pobreza, mas só parece. O que efectivamente mais conseguimos, e é se formos intelectuais lúcidos e honestos (porque há por aí uma espécie de intelectuais dementes, corruptos, que se vendem como prostitutos ao Grande Dinheiro e ao Grande Poder, ao serviço dos quais põem o melhor dos seus saberes e das suas capacidades, num prolongamento do gesto de Judas, o traidor dos Evangelhos canónicos do Novo Testamento, ou do gesto de Caím que mata o irmão Abel, os dois personagens do conhecido mito bíblico do Génesis) é, não transformar o mundo, mas apenas explicá-lo, precisamente este nosso mundo, onde nós, os que nos envolvemos nestas iniciativas somos da imensa minoria dos não-pobres. No máximo, conseguimos explicar teoricamente porque há pobres e Pobreza no mundo. De modo algum, ousamos transformar o mundo que continua a produzir pobres e pobreza em massa, com a mesma eficiência e a mesma frieza com que produz automóveis, mobília mais ou menos bizarra, computadores, telemóveis, perfumes, detergentes e muitos outros artigos de consumo. Ou acham que podemos alguma vez acabar com a Pobreza e libertar as vítimas dela, os pobres, sem acabarmos com a Riqueza acumulada e concentrada e com o Sistema, democrático que se diga, que torna possível esta Demência, esta Inumanidade organizadas? Ora, de que adianta erguermo-nos indignados contra a Pobreza e explicar porque é que ela existe, se não nos erguemos contra a Riqueza acumulada e concentrada, nem contra nós próprios que fazemos parte da imensa minoria dos não-pobres, sempre a sonhar ser cada vez menos não-pobres, por isso, cada vez mais ricos? Acham que exagero? Quem de nós, ao envolver-se nestas pretensas causas, pomposamente chamadas por nós de luta contra a Pobreza e da erradicação da Pobreza no mundo, já se fez mais pobre? Quem já desistiu de querer ser rico? Quem já fez, por exemplo, o que Zaqueu, o do Evangelho de Lucas, fez, quando Jesus, o de Nazaré, não o das Igrejas eclesiásticas, ópio dos pobres e dos ricos, entrou na sua casa / na sua vida, e ficou uns dias com ele? "Vou dar metade dos meus bens aos pobres e dar quatro vezes mais do que roubei a todos aqueles [e muitos eram!] que roubei". Algum de nós já foi capaz de tal decisão pessoal e corporativa, partidária, associativa, eclesiástica, paroquial, mesmo entre os que nos dizemos cristãos e da Esquerda política, e militamos nela em lugares de destaque? E quem já teve a audácia de realizar a Política económica que Jesus propôs ao Homem rico - entenda-se, à imensa minoria dos não-pobres - que o procurou preocupado com questões relacionadas com a salvação eterna, depois da morte, em vez de com as questões e as aflições do quotidiano, onde estão mergulhados todos os pobres que diariamente fabricamos e onde está a Pobreza em massa, estrutural? "Vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e depois vem e segue-me". Sabem que esta palavra de ordem económica e política - a única que tem força para mudar / transformar o mundo - continua ainda por realizar e que os que a ouviram pela primeira vez, até correram a matar crucificado aquele que teve a lucidez / humildade de a captar e a audácia de a praticar / propor / anunciar? Registam os três Evangelhos Sinópticos que, ao ouvir semelhantes palavras, o Homem rico retirou-se triste, porque era possuidor de muitos bens. Pois é. Esse é o problema. Essa é a questão nuclear no que respeita à existência da Pobreza e de vítimas da Pobreza. Os detentores da Grande riqueza acumulada e concentrada e os seus inúmeros admiradores menos ricos mas já não-pobres, podem dizer-se ateus ou agnósticos, mas o que todos são, somos, é idólatras, isto é, vivemos de cócoras e de joelhos diante do Senhor Deus Dinheiro, hoje totalmente independente da Política e totalmente à solta, servido por grandes inteligências, todas dementes, sádicas e cruéis, mas cada vez mais eficientes e cada vez mais bem pagas. E, embora tristes - todo o assassino e mentiroso é triste, e assassino e mentiroso é o Grande Dinheiro e quem está incondicionalmente ao seu serviço - todos exibem ares de muita satisfação, nadam em privilégios, dominam o Mundo, mandam nos Executivos das nações, seguem exclusivamente as leis que eles próprios concebem e aprovam, sempre em mutação / adaptação, segundo a lógica dos seus interesses. Além disso, sabem-se temidos, adorados, idolatrados. E isso consegue disfarçar toda a tristeza que sentem no mais fundo de si próprios e toda a solidão em que vivem como ratos encurralados, rodeados de seguranças por todos os lados. Eu sei - Jesus também o soube melhor do que ninguém e foi já com ele que eu aprendi - que o problema não é apenas, nem sobretudo de pessoas. É estrutural. É sistémico. Ele chamou-lhe "O Pecado do Mundo". Mas também é de pessoas. Concretamente de nós, de cada uma, cada um de nós. Porque são as pessoas que podem mudar o Sistema Económico e Financeiro que hoje nos asfixia e mata e produz pobres e Pobreza em massa. Porque a existência de pobres e de Pobreza não é, como nos fazem crer, uma fatalidade da natureza. É uma opção. Económica e Política. Uma opção que, na nossa demência, não temos querido fazer correctamente e preferimos alinhar no Pensamento Único, na Ideologia / Ideolatria do Império do Dinheiro e da sua Ordem Mundial intrinsecamente perversa e assassina. Na verdade, ou todos escolhemos ser pobres, não-ricos, ou a Pobreza continuará a desenvolver-se no mundo, não apenas numa progressão aritmética, o que já seria tremendo, mas numa progressão geométrica. "Felizes vós os pobres", diz Jesus, não, obviamente, os que o são à força, criminosamente fabricados pelas nossas Economias do Dinheiro cada vez mais acumulado e concentrado. Mas os pobres que o são por opção, que escolheram ser pobres, isto é, não-ricos, por toda a vida. "Ai de vós, os ricos", acrescenta depois Jesus, aqueles que o são por opção e por escolha. Não há saída libertadora e salvadora, digna dos seres humanos e dos povos, fora desta via praticada por Jesus e anunciada por ele à Humanidade. E todas as pessoas e todos os povos temos que escolher. O Mercado, o Grande Mercado não é solução. É genocídio. A única saída é a opção pessoal e global de sermos pobres por toda a vida. É por aqui que vai o Evangelho de Jesus e o próprio Jesus e que está magistralmente descrita naquela metáfora apresentada pelos quatro Evangelhos canónicos, a metáfora viva da Partilha, não multiplicação, como repetem / mentem as Igrejas, dos pães e dos peixes. A solução da fome, da Pobreza, não passa por mais e melhor Mercado, nem por mais e melhor assistencialismo / caridadezinha, mas exclusivamente por mais e melhor Partilha da Riqueza produzida. Lê-se na referida metáfora: "Está aqui um pequeno, isto é, um que escolheu ser pobre, por isso, não-rico, e que tem cinco pães e dois peixes, o que, no total, perfazia o número sete, biblicamente, o da plenitude humana. Quer dizer: Era um Ser Humano cem por cento, não um monstro, um inteligente demente, um chico-esperto. A verdade é que foi a partir desta disponibilidade, desta Partilha - há lá gesto mais politicamente fecundo do que este?! - logo assumida por outro e mais outro e mais outro, que todos, na hora - também nesta que é a nossa hora - comem e ficam saciados e ainda sobra comida, para mais dois ou três mundos como o nosso. Deixemos, porém, a metáfora e fiquemos com a Luz Política que dela salta. E com ela, façamos Economias e Políticas nacionais, europeias e mundiais. Veremos que nunca mais haverá Pobreza, nem vítimas da Pobreza. Porque também nunca mais haverá Riqueza acumulada e concentrada, muito menos, o Grande Dinheiro que hoje anda por aí à solta, numa Obscenidade sem nome. Consequentemente, também não haverá mais ricos e pobres. Haverá seres humanos, simplesmente. E povos, todos diferentes, todos iguais. Todos irmãos e irmãs. Utopia? Sem dúvida, mas que ou nós a tornamos topia, isto é, realidade histórica mundial, ou ficamos sem Futuro. A escolha é nossa. E nem que seja tomada já hoje, saibam que, mesmo assim, peca por demasiado tardia. Mais um pouco de tempo nesta selvajaria global que é hoje o Império do Grande Dinheiro, e o processo evolutivo em marcha na História para nos tornarmos seres humanos deixará de poder prosseguir. Em vez de seres humanos acabados, como Jesus, o Paradigma de todos os seres humanos, acabaremos reduzidos a Coisas. Está nas nossas mãos escolher. Se formos como o Homem rico dos Evangelhos Sinópticos, escolhemos o Grande Dinheiro e ficaremos coisas. Ousemos, por isso, ser como aquele pequeno não-rico que Partiu os cinco pães e os dois peixes que possuía. Seremos plenamente humanos, alegres, sororais/fraternos, felizes, sem pobres no meio de nós e sem Pobreza.

Noite de Poesia dia 18 de Janeiro





Devido às condições que o Bar do Lago emprestou à iniciativa do FSM-Penafiel, esta, continuou na escadaria do Parque do Sameiro

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Artigo jornal "Noticias de Penafiel"




Fórum Social Mundial em Penafiel com bastante adesão



No passado dia 26 de Janeiro, o Fórum Social Mundial assinalou o Dia de Mobilização e Acção Global, com iniciativas realizadas em Penafiel e por todo o Mundo. A Marcha pela Paz, que iniciou no Parque da Cidade de Penafiel, juntando imensa gente e durante a tarde decorreram exposições, animação nas ruas e debates.

A organização do Fórum Social Mundial em Penafiel foi apartidária, contando também com muitas pessoas ligadas a organizações locais, e de outras cidades que se quiseram juntar à iniciativa, onde todas as opiniões e todas as ideias tiveram lugar, para uma maior reflexão sobre o tema: pobreza, injustiças sociais, politicas sociais, ambiente e cumprimento dos direitos humanos.Segundo Paulo Teles Silva do Bloco Esquerda do Vale do Sousa, um dos organizadores, este primeiro Fórum Social Mundial - Penafiel, “foi uma experiencia muito enriquecedora para todos que nela participaram, e contribui para um maior esclarecimento sobre os números de pobreza a aumentarem assustadoramente e das injustiças sociais que vivemos nos nossos dias, sob pena de estarmos sempre debaixo de uma convergência monetária imposta por Bruxelas.” E continua dizendo “o mundo do capital dos nossos dias, onde o dinheiro é o valor que prevalece acima de todos os outros valores nomeadamente o bem-estar das pessoas e a qualidade de vida destas e que se afirma de alguma forma como um imperialismo sobre todos nós. O mundo está em constante mudança, mas a globalização veio acentuar as desigualdades nonosso planeta.”Um dos pontos mais altos que assinalou este dia do Fórum Social Mundial foi o debate sobre a pobreza que contou com a presença de Paulo Esperança, Padre Jardim, Ana Gomes, Elisa Ferreira e João Teixeira Lopes e o moderador Jorge Reis.Com o público a intervir no debate, nomeadamente sobre questões que estavam directamente envolvidas com as actuais politicas já que estiveram presentes duas dirigentes do partido actualmente no governo - Ana Gomes, e a Elisa Ferreira.Elisa Ferreira referiu-se ao filme que procedeu o debate, projectado pela associação local – Novelartecine e o grupo de apoio a jovens na ocupação de tempos livres de Novelas, sobre a fome e o Fórum Social Mundial - Penafiel, para explicar e conversar sobre a globalização e o neo-liberalismo, abordando e lembrando a importância da presença de Portugal dentro do seio da comunidade europeia, e que considera de grande importância uma maior participação e aproximação das pessoas junto da Europa. Por isso, Paulo Silva Teles colocou a questão: “sendo de tal importância esta grande aproximação dos cidadãos à Europa, porque razão o partido actualmente no governo nunca convocou ainda um referendo nacional para ouvir a opinião dos Portugueses sobre a constituição europeia, que seria uma matéria que se reveste de muita importância para todos os Portugueses? No entanto as respostas que foram dadas não convenceram Paulo Silva Teles, que considera que esta é uma situação que não tem explicação. Elisa Ferreira considera que de facto a constituição europeia é uma matéria demasiado importante para todos os Portugueses, mas que não se fez referendo porque não se fez também referendos para outras matérias e como tal optou-se por não se fazer.João Teixeira Lopes, também ex - deputado fez uma análise sobre a situação actual da pobreza em Portugal, informando os presentes do livro negro que está a elaborar sobre o estado de pobreza actual e que vai entregar em breve ao governo.O balanço final deste Fórum foi positivo, e segundo Paulo Silva Teles “poderá se um ponto de partida para outros Fóruns em que possam estar presentes cada vez um maior numero de associações e cidadãos envolvidos no debate e manifestações artísticas, todos juntos por um mundo melhor.”




Abraços grátis no Dia da Mobilização e Acção Global



Os alunos da Escola Secundária do Curso Profissional de Animação Sociocultural juntaram-se às várias iniciativas realizadas no dia da Mobilização e Acção Global. Logo pela manhã deram mais cor e animação à Caminhada pela Paz e a aluna Tânia Silva explicou que “o objectivo era promover a paz, mostrar às pessoas que podemos fazer um mundo melhor”.Não se esqueceram de trazer alegria para as ruas da cidade e andaram a surpreender os penafidelenses com a tão fraterna oferta de “Abraços Grátis”. Da parte da tarde colaboraram também na organização da palestra sobre Direitos Humanos, que decorreu no café Cantinho, recitaram poesia e tocaram flauta.


Sexta feira, 1 de Fevereiro de 2008

Edição nº 42




terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Texto da intervenção do Paulo Manuel Gonçalves Esperança no FSM-Penafiel, em 26 de Janeiro


ESTE NOSSO INCÓMODO
TORNADO MUNDO

Paulo Esperança
26 Maio 2007

O funcionamento em rede outorgou aos séculos 20 e 21 a descoberta das “virtudes” da GLOBALIZAÇÃO “elegendo-a” como o paradigma da resolução dos problemas internos e externos de quem manda e, supostamente, como forma de aligeirar as desigualdades que grassam no planeta.
Sejamos, por isso, claros: no início de 2008, o mundo global não está muito melhor do que estava há uns anos atrás apesar dos “Indicadores de Desenvolvimento Mundial-2007” publicados pelo Banco Mundial concluírem que a pobreza extrema diminui 21% nos últimos 14 anos.
Os números não mentem: Ignacio Ramonet, escritor e director do “Le Monde Diplomatique” Carlos Alfredo Margarinos (então Director da Organização da ONU para o Desenvolvimento Industrial), relatórios do Banco Mundial e de Portugal, de ONGDs como a OIKOS, do Instituto Nacional de Estatística, de Kofi Annan, da Unicef, da Organização Mundial de Saúde, etc., vêm-nos dizer de forma nua e crua: as 225 maiores fortunas do mundo representavam há poucos anos, um total de mais de mil milhões de euros, o equivalente ao rendimento anual de 47% das pessoas mais pobres.
Nesta senda, o património das 15 pessoas mais ricas do planeta ultrapassa o produto interno bruto total do conjunto dos países da África subsariana, em que cerca de 40% da população vive na pobreza extrema.
Em 2004, quando o globo atingia praticamente os seis biliões de habitantes, 985 milhões viviam com menos de 1 dólar por dia; 2,6 biliões com menos de 2 dólares por dia; mais de 2 biliões careciam de vitaminas e sais minerais na sua alimentação, mais de 1 bilião vivia em habitações sem as condições mínimas.
No entanto, 23% da população pertencente aos países industrializados dispõe de 86% do produto bruto mundial enquanto os cerca de 3 500 milhões de habitantes dos países pobres se conformam com os 14% restantes.
Na América Latina, por exemplo, 10% da população tem direito a um quinhão de 48% da riqueza, enquanto os 10% mais pobres detêm apenas 1,6 % da “fatia do bolo”.
Um sexto da população do planeta – cerca de 1 bilião – não tem água potável e em cada 8 segundos uma criança morre por causa da falta dela.
Milhões de menores sofrem directamente as consequências da pobreza no mundo: 134 milhões, com idades entre os 7 e os 18 anos nunca foram à escola, na sua grande maioria, raparigas. Dez milhões de crianças morrem todos os anos com doenças que facilmente se poderiam prevenir.
As mulheres, constituindo metade da população mundial, apenas têm direito a 10% da receita global, quando são responsáveis por dois terços das horas de trabalho no planeta. Uma em cada três é analfabeta e 20% sofrem de alguma violência física ou sexual. A possibilidade duma mulher morrer durante o parto é 250 vezes maior nos países pobres do que nos países ricos.
Os países, “desenvolvidos”, onde vive menos de 20 % da população do globo, são responsáveis por 90 % de todos os gastos com a saúde: os outros 10% destinam-se aos restantes cidadãos do planeta.
As relações mercantilistas baseadas na produção resultante do trabalho escravo continuam a alimentar a ostentação do poder de compra dos países ricos sendo previsível que em todo o mundo haja 27 milhões de pessoas consideradas, tecnicamente, escravas. “Há hoje mais escravos vivos do que todas as pessoas capturadas em África no tempo do comércio transatlântico de escravos. Dito de outra maneira, a população escrava é hoje maior do que a população do Canadá, e seis vezes maior que a população de Israel” escreveu Kevin Bales em “Gente Descartável”.
Por isso, não admira que cerca de 400 milhões de crianças e adolescentes continuem a produzir bens de consumo a preços irrisórios contribuindo assim para os avultados lucros de multinacionais como a Walt Disney, McDonald´s, Warner Brothers, Nike, entre outras.
No mundo actual, a miséria vai tingindo da mesma cor a maior parte do mapa do planeta enquanto o bem-estar se vai reflectindo em manchas dispersas e bem localizáveis. É o assumir de que a exploração “globalizada” é indispensável para a sobrevivência do mundo dos poderosos.
E esta sobrevivência, ou “vai a bem… ou vai a mal”!
A invasão do Iraque é disso paradigma: “viva a liberdade”… o mundo está mais seguro e mais justo como se tem visto. Mesmo os antigos “oponentes” à invasão liderada por Bush, Blair e Aznar, com o estalajadeiro Durão Barroso a servir o “chazinho”, estão, hoje, a “borrifar-se” para as consequências esforçando-se apenas em não perderem o seu lugar “á mesa da pilhagem imperial”.
É este o ponto em que estamos: “ (…) os povos do mundo confrontados com um Império mandatado pelo céu (tendo como garantia adicional, o arsenal mais formidável de armas de destruição massiva que existiram em toda a história). Aqui estamos, enfrentados a um Império que conferiu a si mesmo o direito de ir à guerra quando queira e o direito a libertar os povos de ideologias corruptas, de fundamentalistas religiosos, de ditadores, do sexismo, e da pobreza mediante a velha e provada prática da exterminação. O Império está em marcha e a democracia é o seu astuto novo grito de guerra. Uma democracia transportada até às soleiras das casas por bombas rasantes. A morte é um insignificante preço a pagar para ter o privilégio de provar este inovador produto: A Democracia Imperial Instantânea (pôr a ferver banhada em petróleo, bombardear depois) escreveu o economista Armathya Sen citado por Arundhati Roy.
Esta é a nova face visível do terrorismo legal e global e é tanto mais eficaz quanto tem por detrás de si, e dentro de si, verdadeiros “conselhos de administração clandestinos”, causadores, orientadores e legitimadores das suas decisões.
O governo americano pode estar num esforço de economia de guerra com défices incontroláveis e ser criticado por mais de metade da população mundial: até pode querer aligeirar a sua presença militar nalguns países e regiões; mas nunca o poderá fazer sem que o poder oculto da Lockeed Martin, Boeing, Northoop Grumman, Raytheon ou a General Dýnamics – principais produtores americanos de armamento – dêem autorização… e para a darem têm de lhes ser disponibilizadas outras alternativas
E isto porque, por exemplo, o volume de negócios da General Motors no ano de 2002 foi superior ao PIB da Dinamarca e o da Exxon Móbil ultrapassou o da Áustria. “As mega – empresas globais controlam 70% do comércio mundial (…). Os seus dirigentes, como os dos grandes grupos financeiros e mediáticos, detêm a realidade do poder, e através dos seus poderosos lóbis, influenciam as decisões políticas dos governos (…) e confiscam a democracia em seu proveito “ escreveu Ignacio Ramonet.
Funcionando discretamente e à revelia de qualquer legalidade vão tecendo modelares redes transnacionais que lhes permitem depois dominar os poderes de Estado; “ (…) longe de serem controlados por eles, controlam-nos e formam, em suma, uma espécie de nação que, sem base ou solo algum, fora de qualquer instituição governamental, comanda cada vez mais as instituições dos diversos países e as suas políticas (…)“diz-nos Viviam Forrester no seu “Horror Económico”.
Nesta “roleta russa” em que só os desprotegidos sofrem o efeito perverso da aposta algumas das maiores empresas multinacionais “ (…) controlam mais de 33% do património produtivo mundial sendo apenas (…) responsáveis por 5% do emprego directo “ o que lhes permite a deslocalização da exploração e do roubo deixando depois aos estados nacionais a resolução dos inevitáveis conflitos laborais, étnicos ou bélicos, avisou Naomi Klein.
Estas “máquinas sem rosto” vão decidindo se a Coreia do Sul deve comer “biqueirão” ou “petinga" ao pequeno – almoço ou se a República Dominicana deve exportar alface para o Haiti. “Os banqueiros de Wall Street e os líderes dos maiores conglomerados de empresas estão por detrás destas instituições globais. Reúnem regularmente à porta fechada com o FMI, BM e OMC bem como em inúmeros pontos de encontros internacionais. Nestas reuniões e sessões de consulta participam igualmente os representantes de poderosos grupos de pressão de empresas globais, tais como a Câmara Internacional de Comércio, (CIC), o Diálogo de Negócios Transatlântico (DNT), o Conselho de Comércio Internacional dos EUA, o Fórum Económico Mundial de Davos, o Instituto Internacional de Finanças (IIF) (…) avisa-nos Michel Chossudovsky na sua “Globalização da Pobreza “ e também outras “coisas” semi – secretas como a Comissão Trilateral, o grupo Bildeberg e o Conselho para as Relações Estrangeiras.
Sejamos, de novo, claros: no mundo dos nossos dias a sociedade transmutou-se sem qualquer valor ético ou humano, fundindo-se vergonhosamente com poderosas redes “mafiosas”, violentas e de “vale tudo”.
Naturalmente que este “cantinho à beira mar plantado” não é inodoro nem incolor, muito menos asséptico. Afinal, estamos no pais em que, despudoramente, até o actual Presidente da Republica “se sente envergonhado pelo facto de Portugal estar entre os países mais pobres da União Europeia”, esquecendo-se de apontar algumas das causas, das quais também é responsável.
O poder de Estado, em Portugal, em nome de discursos economicistas e bacocamente herméticos, habituou-se a debitar deficits, previsões e novas miragens de oásis. Sem árvores para “alçar a perna” vai-se limitando a imitar os “cães de guerra” reproduzindo as onomatopeias dos “líderes da matilha”. Quase consegue fazer inculcar na cabeça do cidadão comum que, apesar das dificuldades, os bens de primeira necessidade estão menos caros, que o poder de compra dos salários tem subido e que, enfim, a vida está melhor para todos.
É o princípio do “disco riscado” cuja cópia pirata acaba por se tornar em original.
Dizem os analistas encartados que nas últimas três décadas a economia portuguesa foi das que mais cresceu na média europeia. Provavelmente com razão porque os resultados são visíveis.
-O Estado passou a apoiar algumas instituições vocacionadas para a ajuda aos sem – abrigo que, por sistema vão aumentando, contribuindo para o radioso florescimento da “ sopa dos pobres”;
-O Rendimento Social de Inserção e o Complemento Solidário do Idoso, tapa alguns buracos e serve para evitar o limiar da desgraça;
-Há pelo menos 200 mil pessoas com fome em Portugal e a Santa Casa da Misericórdia distribui a carenciados quase quatro milhões de refeições por ano;
-Fecham hospitais, maternidades, urgências e outros instrumentos de saúde: os bombeiros são os novos parteiros do século 21; isto, claro, para quem não puder recorrer à medicina privada ou não viver perto da fronteira com Espanha.
Trinta e quatro anos depois de Abril, no país das “novas oportunidades”, 1 em cada 5 portugueses vive no limiar da pobreza, 12,4% da população activa ganha o salário mínimo nacional, perto de 40 % dos jovens continua a abandonar precocemente a escolaridade ainda que os diplomas surjam a esmo só para cumprir normas europeias.
Um estudo do INE revelava recentemente que, em Portugal, a pobreza subjectiva atingia cerca de 35% da população masculina e 44% da feminina. 26,3% dos reformados recebe menos de 250 euros mês.
E, no entanto, também neste país da globalização importada, as 100 maiores fortunas representam 17% do PIB. Portugal era (antes do último alargamento) o que tinha a pior distribuição de riqueza no seio da União Europeia com 20% dos mais ricos a controlarem 45,9% do rendimento nacional.
O lucro dos 5 maiores bancos portugueses subiu 23% em 2006 crescendo quase 30% relativamente a 2005.No primeiro semestre de 2007 ganharam 8,7 milhões de euros por dia.
Neste país de programadas assimetrias o Estado impede a consolidação das pequenas comunidades rurais, locais e regionais afastando crianças do seu habitat e da sua cultura própria dando-lhes em troca um terço da sua vida diária passada em autocarros entre casa e a escola.
Menosprezando o “interior”, Portugal, tendo uma densidade populacional inferior a países como a Holanda, tem adoptado um nível de concentração urbana muito maior, fazendo com que em 2015, cerca de 45,3 % da sua população esteja previsivelmente fixada na zona da Grande Lisboa.
O que aqui vos deixei é um retrato “a la minute” do mundo e do país que resultou dos sonhos nascidos na luta de muitas gerações. Tomamos, finalmente, consciência que afinal, o futuro não era agora. Será possível, por isso, um outro mundo e um outro país, no meio deste incómodo que quotidianamente nos vai corroendo a “carne e os ossos”?
Claro que será possível um novo mundo e uma nova forma de vida em Portugal quando os seres humanos perceberem que a “democracia musculada” deste Estado, o capitalismo global e estes números, existem porque nossa lassidão e o nosso fatalismo, são o seu grande suporte. Quando a boa globalização, a globalização da luta dos oprimidos e explorados puder ser planetária e eficaz, as coisas, então sim, aí vão ter de mudar.
Mas para isso, terão de ser esses explorados e oprimidos, os homens e as mulheres destes números a quebrarem as suas próprias grilhetas porque senão…o mundo global da ostentação e do parasitismo irá continuar a organizar muitos congressos de reflexão mas de nenhuma acção.
Termino citando-vos Harold Pinter no seu discurso de aceitação do Prémio Nobel da Literatura, em 2005:
“Quando olhamos para um espelho pensamos que a imagem que nos enfrenta é exacta. Mas se nos movemos um milímetro a imagem muda. Estamos na verdade a olhar para um interminável leque de reflexos. Mas algumas vezes temos que estilhaçar o espelho – pois é do outro lado do espelho que a verdade nos olha.
Creio que, apesar das enormes dificuldades que existem, é necessária uma firme, inquebrantável, feroz, determinação intelectual, como cidadãos (…) Se tal determinação não estiver incorporada na nossa visão política, nunca teremos esperança de restaurar o que está quase perdido para nós – a dignidade do ser humano.”

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Artigo jornal "Verdadeiro Olhar"



Ana Gomes e Elisa Ferreira em conferência do Fórum Social Mundial de Penafiel
Eurodeputadas apelam a mudanças políticas
Ana Gomes e Elisa Ferreira foram as principais convidadas do Fórum Social Mundial de Penafiel para a conferência que marcou o Dia de Mobilização e Acção Global, no passado sábado. Perante as cerca de 30 pessoas que assistiram numa sala do extinto cinema de Penafiel, as eurodeputadas socialistas mostraram-se desvinculadas da orientação recente do partido liderado por José Sócrates e apelaram a mudanças políticas mundiais com vista a uma melhor concretização da globalização.
No entender das conferencistas, a globalização que tem sido levada a cabo é positiva em vários aspectos, como a maior disponibilização de informação e uma maior consciência social internacional. No entanto, ela “não gerou igualdade”, referiu Elisa Ferreira, que, tal como Ana Gomes, apelou à construção de um melhor futuro. Um futuro onde, segundo todos os conferencistas, o Estado tem de voltar a desempenhar o papel de regulador da sociedade, impondo outras condições laborais, económicas e ambientais.
A caminho do “abismo”, Portugal e o mundo “têm de tratar dos seus problemas sociais” e acabar com a importação de práticas neoliberais, que “defendem que cada um olhe por si”, afirma Elisa Ferreira. Estas alterações têm de ser internacionais porque, nas palavras de Ana Gomes, “vivemos numa aldeia global” e “somos cidadãos do mundo”. Muitos dos problemas do mundo devem-se, assegurou ainda, à elevada corrupção em África, que “foi exportada do lado de cá”. Inclusive de Portugal, onde “continuamos a fechar os olhos à corrupção”, concluiu.
Políticos são “manipulados pelo poder económico privado”
João Teixeira Lopes falou das “utopias que apostam em retrocessos civilizacionais”, entre as quais está o neoliberalismo. Este estabelece “uma precarização dos quotidianos” e “faz com que se desvaneça a ideia de estabilidade e projecto”, garantiu o membro do Bloco de Esquerda. Actualmente, no seu entender, “temos [em Portugal] um Estado social que se desagrega” e esquece que “devemos incutir uma política de mínimos comuns”.
Proveniente de Cabeça Santa, em Penafiel, o Padre Jardim, responsável por uma rede europeia anti-pobreza, disse que “infelizmente são os poderes económicos que governam” e que os políticos são “manipulados pelo poder económico privado”. “Não tenho nada contra os ricos, mas tenho contra a injustiça”, afirmou, garantindo que “a liberdade portuguesa não é tão verdadeira quanto isso”. “Estou a pagar a factura por falar a verdade na luta contra a pobreza”, enfatizou.O primeira conferencista a usar da palavra foi Paulo Esperança, enumerou estatísticas que apontam para a miséria em que vivem vários dos habitantes do planeta e contrapô-las ao facto de que “as mega-empresas globais controlam 70 por cento do dinheiro”, naquilo que não mais é do que uma “pilhagem imperial”.
Foto: Paulo Esperança, Padre Jardim, Ana Gomes, Elisa Ferreira e João Teixeira Lopes foram os convidados