segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Visão do Fórum Social Mundial de 2008 por Eduarda Castro


MOVIMENTO GLOBAL

Talvez não por acaso, no dealbar deste século-milénio, surge, pela primeira vez um movimento que transforma efectivamente o nosso planeta numa aldeia global.
Importa referir que o avanço tecnológico que levou à criação da internet teve um papel determinante neste movimento.
O movimento pela paz e o movimento forístico são os protagonistas desta nova forma de intervenção cidadã.
Em 2001, ano um deste milénio, realizou-se em Porto Alegre, Brasil, o primeiro Forum Social Mundial, mobilizando cidadãos e organizações de todo o planeta.
Em 2003, perante a perspectiva de ataque ao Iraque por parte da administração Bush, o mundo inteiro, localmente, saiu à rua, em simultâneo, para tentar evitar a guerra eminente com as consequências catastróficas que hoje vivemos.
O movimento forístico segue o seu curso complexo e diversificado e desdobra-se em foruns sociais locais, regionais, nacionais, continentais e mundiais para se expandir, neste ano de 2008 num Forum Social Mundial que floresce em toda a parte onde a semente tem condições para dar flor. E isso acontece em todos os continentes, em mais de oitenta países, em mais de quinhentas iniciativas e é apenas um pequeno embrião de um mundo melhor que é possível.
Pessoalmente, que sigo atenta e confiante este despertar da humanidade, acredito que um passo importante virá a ser dado na medida em que vá sendo possível transformar este movimento num movimento de acção e não apenas de reacção, com a perspectiva de ser um movimento essencialmente de pró construção de um mundo melhor e deixando de ser um movimento contra o mundo velho a cair de podre.
Esta posição não exclui, bem pelo contrário, a visão rigorosa e segura sobre o que de tremendamente errado o poder e os poderes têm vindo a fazer. Não exclui a consciência de que é o capitalismo, hoje neo-liberalismo global, a origem da situação que vivemos, mas a perspectiva é de que nós somos o novo, nós somos @s que queremos um outro mundo, humano, solidário, saudável, pleno de luz, de cor, de vida, de alegria, de sorrisos, de amor e vamos caminhar nesse sentido.

Em Penafiel, 26 de Janeiro deste 8º ano do novo milénio, pudemos cantar o emblemático «acordai» em que as palavras de José Gomes Ferreira ecoam na música de Fernando Lopes Graça.
Ora o que assistimos de facto é ao acordar de um mundo entorpecido e adormecido pelo apelo a uma vida de aparência em detrimento de uma vida de essência a um ponto em que o cansaço gera o seu despertar para uma nova – tão antiga – realidade. É, pode e tem de ser, um belo e tranquilo despertar, espreguiçar, interiorizando a própria força, a que nos é dado assistir e de que nos é possível participar.
Somos pois protagonistas dos primeiros acontecimentos à escala planetária, a única escala que nos permitirá um passo seguro e efectivo no sentido da libertação da humanidade.
Pensar globalmente e actuar localmente com as ideias-chave da Revolução Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade e com a imensa diversidade que engrandece @ human@ é o caminho.
O crescimento da cidadania faz-se dia a dia na vida de tod@s e da cada um(a), colectiva ou individualmente. Mas o grande passo que este milénio permitiu foi a actuação simultânea ao nível planetário e essa actuação é a resposta às diferenças socio-economicas que irá possibilitar uma efectiva aproximação da humanidade, que irá permitir o aparecimento de uma efectiva humanidade, de uma humanidade global com tod@s diferentes, tod@s iguais.
Este caminho só funcionará, penso, se for tranquilo, seguro, determinado e solto. Os agentes do novo mundo devem ter a certeza do que querem para si e para tod@s ao mesmo tempo que devem permitir que o caminho se faça na justa medida em que vá sendo possível.
Talvez seja este o maior desafio. Perante tantas injustiças e tão grandes malformações poderá tornar-se difícil conciliar a pressa de transformar com as reais possibilidades de o fazer.
Quanta mais beleza, criatividade, alegria serena conseguirmos transportar para dentro deste movimento global mais adesões conseguiremos para esta bela caminhada.
maria eduarda

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